domingo, 4 de março de 2012

“Era uma vez...

“Era uma vez...

...um sonho... O sonho de manter acesa a chama vibrante, intensa e colorida da infância. Um tempo marcado pelo encantamento da atmosfera onírica que rege a primeira e mais importante fase de nossas vidas. Uma época singular, rica, pessoal e intransferível. Período em que representa uma galáxia em meio a todos os outros milhões de sistemas estelares produzidos pela fértil imaginação infantil. Imaginação livre de preconceitos, de negativismos e de limitações. A pureza, a ousadia e o espírito quase selvagem dos primeiros anos nos marcam de forma indelével por toda a existência... É como se esse período fosse comandado pelo ritmo de um relógio cujos ponteiros marcam só diversão e alegria... Um tempo cujo cheiro, gosto, cor e som continuamos perseguindo, de forma consciente ou inconsciente, por toda a vida.

Muito dessa beleza e dessas qualidades da infância é adquirido e aprimorado por meio das histórias que, quando crianças, ouvimos de nossos familiares – pais, mães, avôs, avós, tios e tias – e professores. Histórias que também chegam por leituras, filmes, desenhos animados, peças de teatro.
Sem o passaporte mágico dessas narrativas, é difícil conceber viagens, aventuras, conquistas, temores, medos e receios imaginários fundamentais ao nosso desenvolvimento intelectual e emocional. As histórias nos permitem conhecer e criar mundos fantásticos, repletos dos seres mais extraordinários e das sensações mais diversas...Sem elas, a infância, a adolescência, a juventude e a maturidade estariam condenadas a ocupar um palco sombrio, triste, desprovido de atores verdadeiramente apaixonados.
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Mais do que nunca, é preciso dar um novo sentido a esses pequenos seres iluminados que ocupam almas e corações...Crianças interiores que habitam castelos, vales e montanhas edificados quando ainda arquitetávamos sonhos...Meninos e meninas comprometidos apenas em bater a meta diária da felicidade.
Lembremos que estamos vivendo os primeiros anos de um novo milênio, um tempo propício para recomeços, novas tentativas e escolhas. É chegada a hora de assumir o comando dessa embarcação em direção ao futuro. Não podemos esperar que as novas gerações modifiquem o que está errado se não despertarmos para o fato de que cabe a nós, desde já, dar o exemplo. Para isso, nossos pensamentos e ações devem ser um misto de altruísmo, capacidade de doação e amor ao próximo.
Mas como faremos se os valores que deveriam nortear a vida em sociedade parecem cada vez mais esquecidos? Como educar nossas crianças e jovens num tempo em que a aparência vale mais do que a essência e a competição e o individualismo teimam em ditar as regras dos relacionamentos, acabando por minar qualquer possibilidade de companheirismo, de amizade e de amor?”
Acreditamos que as dificuldades, os conflitos, as guerras e a intolerância que gradativamente se apoderam do mundo são resultado dessa total inversão de valores que predomina nas sociedades – configurando um tempo em que até mesmo a esperança parece estar mais escassa. Cabe a nós estar conscientes da importância de nosso papel e amparar, reerguer, reavivar os sentimentos, valores e atitudes que poderão renovar a confiança em dias melhores.
Várias são as formas de reconduzir o barco da História na direção mais eficaz do sucesso da aventura humana. Uma delas é lançando um olhar mais atento às grandes histórias, de modo a apreender seus ensinamentos com mais competência.”

 Gabriel Chalita em Pedagogia do amor, páginas 9, 10 e 11